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Um dia desses, fui surpreendido com uma pergunta à queima-roupa, como se diz: "Você tem medo de morrer?" No primeiro instante a surpresa foi tal que emudeci por alguns instantes. Em seguida, no entanto, iniciamos um diálogo muito interessante.
Antes de mais nada, tenho que dizer que como estou pensando em viver e não estou cultivando sentimentos de morte, não sinto medo de morrer. Sinto, sim, vontade de viver e de continuar a missão de evangelizar.
Creio que o medo surge, na medida em que nos fixamos na possibilidade da morte. Sei que eu e você vamos um dia morrer, cada um em seu tempo vai morrer, mas no momento ocupo-me com o melhor modo de viver, como preservar a vida, como evitar as ameaças da morte.
Não posso dizer que lutemos contra todos os tipos de medo, pois isso é próprio do ser humano. Eu não nego, tenho meus medos, principalmente, do sofrimento, porque não cheguei à maturidade do escritor Carlos Carretto que, aos 90 anos de idade, escreveu que pedia a Deus a graça, se possível, de não morrer sem sofrimento. Essa foi uma das afirmações que muito me impressionou e que nunca havia escutado de ninguém. E Carlos Carretto não era um estoico ou anormal, era um santo. O motivo do desejo de sofrer antes de morrer, dizia ele que era para ter maior identificação com Jesus Cristo.
E, por incrível que pareça, estamos num tempo de sofrimento psíquico e social, daí a necessidade de unirmo-nos e cultivar a esperança, pensar na vida, alimentar interiormente a solidariedade, pensar nos outros. É tempo de buscar forças na comunhão fraterna, mesmo virtual, estar em sintonia com tantas pessoas lutadoras e generosas. Sim, é tempo de revisar hábitos, programar novas atitudes e preparar o amanhã vivendo o momento presente sem pânico, mas tomando os devidos cuidados.
Não sabemos quanto vai durar ainda esta "noite" de pandemia, esse "inverno" de recolhimento, mas sabemos que a "aurora" está por vir. Não sabemos como serão os novos tempos, mas certamente serão diferentes, serão mais exigentes e para isso precisamos estar fortalecidos na união, no amor, na fé.
As atitudes de hoje terão grande reflexo no futuro. Se fizermos desse tempo um momento de conscientização, de introspecção e de revisão de hábitos, estaremos preparando o amanhã e não haverá necessidade de medo ou pânico. Todos nós temos consciência de que é um momento único e esperamos que logo mais fique para trás, apenas na memória.
Desejo que esse tempo passageiro seja uma profunda escola de aprendizado pessoal e social e, ao mesmo tempo, uma redescoberta do valor da vida, da amizade, da convivência, do aperto de mão, do abraço, e, sobretudo, da importância dos outros em nossas vidas.
Espero que este tempo sirva para buscar uma vida e uma sociedade nova e, logo mais, livres dessa pandemia, nos tornemos mais unidos, mais fortes e mais solidários.